quinta-feira, 31 de janeiro de 2013



ALIENAÇÃO

Há lindas estrelas no céu.
Há lindos pássaros voando.
Há flores lindas no jardim.
Há crepúsculos matutinos lindos,
lindos crepúsculos vespertinos.
Há alegria nos rostos infantis.
Há intensa luz no final do túnel.
Mas só para quem sabe ver.
E para ver tem que crescer.
E o crescimento só se realiza
se houver educação do ser.
Mas a educação está em crise.
Será que a educação está em crise?

Huberto Rohden esclarece
que da educação não há crise
porque não pode haver crise
daquilo que nunca existiu.
Educação para aqueles
que vêm governando este mundo
tem um único objetivo:
preparar para o trabalho,
para as faculdades, para o domínio.
Para a busca do saber a fim de fazer valer
direitos de quem tem poder.
A educação que conduz
à evolução moral e intelectual
não pode ser ministrada
se o alvo é a exclusão.

O projeto dos governos
que impede educação e promove exclusão
só pode ser bem sucedido
pelos frios economistas.
Economistas entendem de números.
Da evolução das pessoas
somente educadores entendem.
Escolas sem pedagogos, sem médicos,
sem assistentes sociais, com professores mal pagos
não são escolas, são fábricas
de analfabetos funcionais.

Visando a manutenção de interesses
das vis classes dominantes
a educação tem que ser
instrumento de alienação.
O ministro da educação
tem que ser economista.
O secretário da educação
tem que ser economista.
E a meta a ser atingida
protegida por polícia!



Prof. Candido da Silva

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Aulas enlatadas: para onde caminha a política educacional brasileira?
Há décadas o mundo curvou-se ao prêt-à-porter, ao fast-food, à intensidade consumista e assim foi se acostumando com a rapidez com que o tudo pronto, o nem sempre necessário, o efêmero se impõem à nossa vida*.
Enlatam-se frutas, sopas, carnes e tudo que couber em belas embalagens que, com a força de uma boa campanha publicitária, virarão dólares, mesmo com gosto pasteurizado ou sem sabor.
Aulas não se podem enlatar. Ou podem? O Ministério da Educação anunciou nos últimos dias que comprará aulas semi-prontas, industrializadas, uma espécie de modelo tamanho único para ‘auxiliar’ pedagogicamente os professores. (Dilma convida professor norte-americano Salman Khan para parceria em projeto na educação básica, agência Brasil, 16/01/2013 – 19h10).

As aulas do professor Khan foram muito bem compostas por sua finalidade inicial: auxiliar sua prima, que morava distante, a compreender matemática. Ambos dialogavam  pela internet e assim, neste processo de mediação, permeado pelo conhecimento recíproco e pela afetividade, foram compondo aprendizagens. Afinal, Khan deveria conhecer a sua prima para ensiná-la. Como afirma Snyders: para ensinar latim a João é preciso conhecer latim e conhecer João.

A aula é uma prática social realizada numa condição historicamente situada, que envolve uma dinâmica de contextualizações e atualizações, que não se faz numa única direção de injetar conteúdos prontos; a aula se faz a partir de mediações e atribuição de sentidos e significados entre estudantes e professores.
A aula não pode estar pronta antes do encontro professor-estudante, portanto, não pode vir enlatada. Transmitir conteúdo não representa dar aula. A aula é o meio utilizado pela escola para a formação de pessoas, é o momento em que, para aprender, é necessário que o estudante incorpore o conteúdo a seu nível de significado e a função do professor é de identificar diferenciados processos de compreensão, dúvidas, hipóteses dos estudantes, saberes envolvidos no ciclo ensinar/apreender, colaborando para as possibilidades de articulações com outras aprendizagens. O professor começa a construir a aula com o aluno antes de encontrá-lo, mesmo na modalidade a distância.
Sabemos qual a equação para a melhoria da qualidade da educação brasileira: boa formação de professores, condições dignas de trabalho, adequado ambiente escolar e capacidade de gestão democrática das equipes dirigentes.
Medidas como essa em questão contrariam a luta histórica de educadores contra a importação de modelos educacionais e a favor de uma política educacional brasileira, comprometida com as nossas necessidades e possibilidades.
Felizmente o professor Khan recusou o convite. No entanto, assusta-nos que nossas lideranças não tenham considerado questões fundamentais, pontuadas pelo convidado.
Esse convidado apoiado em seu bom senso recusou o convite. Outros não recusarão. Alertemo-nos: a recusa não significa que Dilma mudou de ideia. Assim permanece nossa tensão sobre a próxima fórmula mágica que se buscará para equivocar nossa educação!
Quando parece que estamos avançando no campo da Educação retrocedemos com escolhas tão contraditórias. É frustrante! Fica a pergunta: para onde está caminhando a política educacional brasileira?

*As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Marineide Gomes (Unifesp/EFLCH), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) e Valéria Belletatti (Instituto Federal de São Paulo) são doutoras em Educação e integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE-FE) da USP.